Contos de FATOS

A menina não viu seus vestidos encurtarem, por este motivo ela não soltou a mão do juiz mandão. A menina fechou os olhos quando o sangue escorrera-lhe  pela primeira vez. Ela nunca adoeceu, ela nunca se percebeu.

A menina pensava ser travessa, mas a  menina era atravessada. Desde o seu último dia no útero de sua mãe. Já nasceu assim, pensando contornar o fim. Dizem que a menina foi autoritária, firme e controladora. A menina nunca se percebeu.
As vezes o Juíz falava por ela, outras vezes ela falava pelo juíz mandão.
O juíz caminhou rápido, o juiz ganhou voz e entonação e a menina foi rastejando pelas ruas e nunca sentiu se quer   seu joelho ralando pelo chão. Não... a menina não chorou! a menina cantou, a menina assoviou, a menina se encantou. A menina se enganou!
O juíz defendia, o juíz reprimia. A menina não ouvia, a menina não queria.
A menina nunca desabrochou, a menina muito se machucou. A menina sempre lucrou, lutou e muito buscou. O juíz atrapalhou e também ajudou. 
A busca foi brusca, estilhaçou, dilacerou, machucou. A menina nunca chorou.
A menina não viu seu parque de diversão. A menina só temeu a imprecisão. A menina quis esconder a dor que ela não sabia que sentia. O juiz acredita que falar alto alivia.  A menina largou a mão do juiz e correu para os caminhos mais curtos. Sem juiz, sem surto, sem remorso, sem crenças, somente a inocência. A menina caiu e nunca desceu. A menina pôde tudo e sonhou que quase encontrara o que era seu. O anjo, o amigo, o amor, a vida, a fé e a energia cósmica deixou o menino encontrar a menina. O menino lhe deu abrigo. A menina se lembrou do juiz mandão e por mais ou menos 1460 dias ela fez o que ele lhe dizia. A menina ficou tão grande que nem teve tempo da menina crescer. A menina estava longe do juíz.
A menina e o menino. Quase sempre só a menina. Sempre o menino e a menina. O menino era diferente da menina. O menino protegia, o menino ... o menino se ofuscou, o menino ficou frágil pra menina. O menino era forte e resistente. A menina estava muito fraca, mas a menina continuava onipotente.
A menina acertou, pura sorte, pura ajuda dos cosmos, pura inocência assertiva. 
A menina conheceu o lobo mau, ele não o comeu como no conto infantil. A menina estraçalhou o lobo e não percebeu. A menina nunca percebeu que o lobo não era bobo. A menina nunca teve medo. A menina quase morreu de medo. O lobo estava com um belo casaco de pele de ovelha. A menina colocou a mão na boca dele. O lobo era macio e delicado. O lobo era também falso e dissimulado. A menina sabia disso e fingia não perceber. A menina nunca se percebeu. O juíz mandão estava sempre perto. O juíz mandão falava muito alto. A menina não sabia. Isso era segredo. Era o segredo dela que estava escondido nas entranhas. Na tentativa de salvar a menina o juiz mandão gritou tão alto que ela quase ensurdeceu. O grito do juíz estremeceu. O lobo que não entendeu nada, fingiu ser ovelha. Ovelha negra. As ovelhas negras são ovelhas raposas. 
O juiz só quis salvar a menina. O estremecer da voz do juíz, fez a menina largar a mão dele. Somente nesse momento a menina percebeu que o juiz estava dentro dela. O juiz era ela. Ela não percebeu por si só. Um anjo em seu ofício que estava no meio do caminho teve que intervir para mostrar.Mostrar que o juiz sempre esteve lá. Sabe o que a menina fez? largou a mão do juiz e disse que era de vez. O anjo do meio do caminho, disse que ela não deveria soltar a mão do juiz mandão. O anjo falou que ela deveria segurar os dois dentro de um coração. O seu coração!!!!!!!!! 
Lá atrás no passado os dois cresceram juntos e desajeitados, a menina não cresceu e o juíz cresceu e se envaideceu. Ela é pequenina e cheia de energia, ele é grande e inflado como um balão. Como farão para dividir em metades iguais e ambos caberem em um só coração? O juiz deixa de ter um pouco razão e a menina infla a emoção. O equilíbrio não é utopia nem impossibilidade. É duro de conquistar. Mas é assim que a menina vai alcançar o tamanho do juiz e ambos serão felizes de verdade.
O MENINO mostrou seu brilho. O menino auxiliou a menina. A menina muito ensina para o menino. A menina... a menina vive, a menina respira, a menina alivia. A menina se transforma, se reinventa, se resignifica. ela está tão forte. Ela é muito forte. Ela está quase do tamanho do juíz. Ela está tirando as pedrinhas do joelho. Ela sente fortes dores no cotovelo. O remédio está chegando. A farmácia fica do outro lado do universo. Mas o remédio está chegando. Pelo menos o anjo disse que a menina não está mais chorando.
Quanto ao lobo, as ovelhas negras tem o poder mágico de se dissiparem. É melhor a ovelha negra sumir quando nunca poderá ajudar. Ovelhas negras não sabem de fato ajudar. Ovelhas negras só vem para atrapalhar. A menina quer que a ovelha vá pastar! Num pasto bem verde e farto, com muita abundância e felicidade. O anjo disse que o desejo de melhoria e bem para a ovelha negra fará com que, da menina o lobo nunca mais vai lembrar.
Ontem a menina pisou na terra, subiu em árvore na companhia de belas crianças. Presente do universo para todas as meninas que não viveram de fato a sua infância.


A minha infância eu vivi. A menina não. A menina viu muito bicho papão!


Ah! e sobre a pera em cima da árvore, o anjo disse que ela está quase apanhando. E dessa vez, com o consentimento do juiz mandão. Eles estão tão próximos que a menina está desconfiada de que ambos são irmãos.